

CARGOS DE CONFIANÇA
Não queria estar no lugar do Serra. Claro que se ele quiser trocar seu(s) saldo(s) bancária(s) comigo, aceito de bom grado. Mas é só o que nele invejo.
Meus parceiros são de total confiança. Com eles entro em qualquer lugar, encaro qualquer ladrão. Se me dizem que algo aconteceu, posso acreditar que realmente aconteceu. Se, antes de praticarmos alguma ação, qualquer parceiro tiver dúvidas a respeito, simplesmente deixamos de praticá-la. Porque confiamos uns nos outros. E sabemos que se existe alguma dúvida, a ação certamente não será segura.
Os acontecimentos dos últimos meses me trouxeram a convicção que o Serra não tem a mesma sorte que eu. Os erros de estratégia foram muitos, em um processo tão simples. Causados, certamente, por erros de avaliação. Tinham a certeza que não entraríamos em greve. Erraram. Tinham a certeza que a greve não seria retomada quando o STF determinou que o julgamento do dissídio fosse feito pelo TJ ao invés de pelo TRT. Erraram. Tinham a certeza que o movimento racharia quando fizeram aquela proposta ao pé do ouvido. Quase acertaram. O “quase” significa que erraram. Apostaram que não encararíamos o choque. Deu no que deu. Afirmaram que após o envio das propostas para a ALESP a greve perderia a força. Erraram de novo.
Na ALESP, o acusaram de descumprimento da lei. Seu líder não tinha argumentos, e ao invés de esboçar uma defesa, atacou outros políticos. Como se um erro justificasse o outro. Só que os políticos atacados não erraram. Bem ou mal, cumpriram a lei. O que o Serra não fez. Ou seja, o defensor conseguiu realçar que todos os outros cumprem a lei... menos o seu defendido.
Está muito mal de parceiros. Os que o assessoram não conseguem avaliar as situações como elas se apresentam. Os que devem defendê-lo não sabem fazê-lo.
Fosse o governador um político normal, teria reconhecido as falhas graves de avaliação muito tempo atrás. Cabeças já teriam rolado, e talvez o processo já tivesse tido um final – se não feliz, ao menos satisfatório para todos – que minimizasse o prejuízo político. Mas ele não é normal. Insiste no erro. Continua aceitando a avaliação daqueles que o levaram à beira do abismo. Puro orgulho. Não admite a possibilidade de ter escolhido mal seus assessores. Não admite ter errado nas suas avaliações. E por isso sua situação vai piorando a cada dia que passa. Devido ao orgulho, não corta as cabeças. Dane-se a população.
Se o senhor quiser trocar seus saldos bancários comigo, aceito de bom grado. Quanto ao resto... morro de dó.
Flávio Lapa Claro
Investigador de Polícia
DAS/DEIC
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