
LIDERANÇA II
ODEIO livros de auto-ajuda. São objetos que desprezo, que normalmente trazem conceitos tão intuitivos que a única razão que vejo para alguém gastar dinheiro comprando um deles é a necessidade de se convencer que aquilo que seu instinto lhe diz está correto. No entanto, fui obrigado, durante meu curso de graduação, a entrar em contato com alguns deles. Entre eles, um intitulado O Monge e o Executivo, de autoria de James C. Hunter.
Durante 139 páginas Hunter tenta explicar o que é óbvio.
Assim ele define liderança: “É a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente na busca de objetivos identificados como sendo para o bem comum”. Poder é definido como sendo “a faculdade de forçar ou coagir alguém a fazer sua vontade, por causa de sua posição ou força, mesmo que a pessoa preferisse não o fazer”; e autoridade é a habilidade de levar as pessoas a fazerem de boa vontade o que você quer por causa de sua influência pessoal.
Nem sempre o líder tem poder. Nem sempre quem tem poder é líder. Só tem autoridade quem tem liderança.
Desde o início da greve tenho repetido um chavão: afirmo que as entidades de classe não fazem greve; quem faz greve é o trabalhador. Cabe aos dirigentes classistas implementar as decisões dos seus representados...é para isso que eles existem. Alguns desses dirigentes, no entanto, acham que os grevistas existem para lhes fornecer instrumentos que lhes facilitem a realização dos seus próprios objetivos. Não ouvem os seus representados. Não se importam com o que queremos alcançar, nem com os métodos que queremos usar. Se esquecem do bem comum. Não possuem a habilidade de influenciar pessoas para trabalhar entusiasticamente na busca de objetivos identificados como sendo para o bem comum. Tentam usar o Poder obtido quando eleitos para as diretorias das entidades para que suas vontades sejam satisfeitas, mesmo que nós não queiramos fazê-lo.
Felizmente, na maior parte das vezes não alcançam seus objetivos.
Diversos são os exemplos coletados durante a greve. Um dos exemplos mais claros foi quando as Associações recomendaram a suspensão da paralisação por 48 horas. Os colegas – agora parceiros – das regiões de Prudente e Campinas se reuniram em assembléia e, democraticamente, decidiram acatar a recomendação. São dirigidos por líderes. Os parceiros de outras regiões não têm tanta sorte. São dirigidos por quem tem poder.
Outro exemplo de falta de liderança ficou claro durante a passeata de quinta feira. Patética a imagem daqueles que, em cima do carro de som, tentavam impedir seus representados de avançarmos contra os coxinhas para defender dois parceiros - Rebouças e Jarim - que estavam sendo por eles coagidos...Parceiros que, diga-se de passagem, também foram enganados por aquele “líder” que informou que a comissão seria recebida no palácio. (Por mais que tente entender, ainda não consegui).
Líderes fossem, suas palavras teriam sido acatadas. Mas nessa hipótese - deles serem líderes - NUNCA tentariam nos impedir de fazermos o que é certo – defender parceiros em apuros. Ao contrário, nos incentivariam.
Leio agora no Estadão on line que colegas de algumas regiões decidiram não atender ocorrências apresentadas pela meganha. Essa notícia transforma a luz amarela dentro da minha cabeça em luz vermelha. Sinal de perigo. Sinal de perda total do controle da greve pelas “lideranças”.
Não vem ao caso se concordo ou não com a atitude dos colegas. Minha preocupação vem da incapacidade dos dirigentes das entidades associativas de conseguir unificar as ações do movimento. Com essa incapacidade vem a divisão, e o resultado mais provável da divisão é a derrota.
Imploro aos senhores que nos “representam” que prestem mais atenção aos sinais. Não usem o Poder. Já basta o carequinha fazendo isso. Sejam Líderes. Sugiro que nos consultem sobre os rumos do movimento, ao invés de tentarem implementar aquilo que acham que é certo. Durante a consulta, podem até nos convencer da correção dos seus pensamentos. Mas enquanto não houver esse convencimento, não haverá possibilidade de manter o movimento uno e bem coordenado.
Graças aos acontecimentos de quinta feira os colegas que tinham algumas dúvidas sobre a seriedade do movimento – gato queimado tem medo de água fria – deixaram essas dúvidas de lado e estão cem por cento comprometidos com nossa causa. NÃO PONHAM ISSO A PERDER tentando impor decisões com as quais podemos não concordar. Não rola.
Abraços...
E até a vitória final.
Flávio Lapa Claro
Investigador de Polícia
DAS/DEIC
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